quinta-feira, 2 de dezembro de 2010







que raio de mania de sentir tudo à flor da pele.

Aos amigos

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.


Herberto Helder

limpar o lixo que se acumula nos cantos da casa

tesa, pequena, mesquinha.
amargurada até aos ossos. seca até às vísceras.
invejosa, daninha, corroída, corroente.
venenosa.
peste. serpente.
língua bífida e coração mirrado.
invejosa, asquerosa, malcheirosa.
pestilenta, doente. demente.

respirar fundo.

ja está.
hoje foste embora outra vez sem dizer nada. acordaste, saiste da cama, banho rápido, café apressado e bateste a porta. eu gosto mais da casa quando tu não estas lá. mas gostava muito mais de sentir a tua falta.
tu dizes que não me amas. que o teu corpo não fica trôpego quando pensa no meu. que, quando fechas os olhos, não é a minha boca que tu sentes, não é o meu cheiro que te atormenta, não é a curva do meu pescoço que define o mundo inteiro. que não podíamos viver para sempre aninhados nas palavras um do outro e darmos as mãos na rua. mesmo quando está muito frio.
eu acredito. e também não te amo.