Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho da madrugada,
até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areiado meio-dia,
até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam com o tempo,
deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez ali o puseste;
e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre na superfície dourada.
Podes, então, levantar a cor até à altura dos olhos,
e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes,
sem que possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser
algum dia, imitar o céu.
Nuno Júdice
Sempre adorei este texto. Lembro-me de quando o ouvi pela primeira vez no recital de poesia A Gula protagonizado pelo Sindicato de Poesia pela voz belíssima e inconfundível da Sofia Saldanha.
Também quero fazer azul. E expandir-me céu adentro.
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3 comentários:
primeiro a laranja, agora o azul ... segue-se o quê ? O Indigo eyes do Peter Murphy ?
Fora de tangas não conhecia a receita ... vou experimentar embora o meu talento para a colinária me leve a temar que saia um azul torrado ... assim para o negro ...
primeiro a laranja, agora o azul ... segue-se o quê ? O Indigo eyes do Peter Murphy ?
Fora de tangas não conhecia a receita ... vou experimentar embora o meu talento para a culinária me leve a temar que saia um azul torrado ... assim para o negro ...
raio tenho que ser mais rápido a corrigir os meus erros ...
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